Das histórias nascem histórias

Das histórias nascem histórias
um poema visual de Fernanda Fragateiro

domingo, 7 de junho de 2015

o meu filho é um intelectual



na viagem de regresso a casa, ao anoitecer, depois de um piquenique entre amigos muito, muito especiais, onde houve bombardeamentos de água para refrescar toda a gente:
- mãe, acho uma estupidez venderem-se armas.
- eu também. e o mais estúpido é que há países, como os EUA, que vendem armas para ganharem muito dinheiro... com as guerras que eles provocam.
- se não se vendessem armas, se calhar não havia ladrões... nós vamos empobrecer, mãe?
- espero que não... por isso é que falamos tantas vezes nas coisas que não vale a pena comprar, não é?
- o que é o Estado, mãe? é que eu já fiz essa pergunta ao Rui, mas esqueço-me sempre...
- o Estado, blá, blá, blá...
- tu é que devias ser boa no Estado, mãe. porque é que são os maus que vão sempre para lá?
- pois não sei...
- há muitas pessoas deficientes porque os americanos deitaram duas bombas no Japão!
- pois, é que guerras sempre houve, mas dantes os reis e os que mandavam também iam para a guerra, não mandavam atirar bombas em cima das pessoas...
- o Afonso Henriques é que ia à frente, com a espada içada, e os outros iam atrás dele. mas depois com os cowboys, eles tinham pistolas e os índios tinham arcos e flechas e, é sempre a mesma coisa, os mais fortes ganham aos mais fracos...
acho que ele está mesmo a crescer.
não são as coisas que em volta estão que mudam de tamanho.
o senhor Pina que me desculpe...

quinta-feira, 31 de julho de 2014

virar o mundo de dentro p'ra fora




foi o que andei a tentar fazer durante este tempo de ausência.
a tentar virar o mundo de dentro p'ra fora, a ver se o mundo assim melhora.
mas não melhorou.
continuo a virar, a virar, a virar...
(e no entretanto estive eu virada do avesso)
continuo a virar, a virar, a virar.
e tantas voltas o mundo há-de dar
que alguma coisa há-de melhorar.
obrigada, sr. Pina.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

nothing to be frightened of

I don't believe in God, but I miss him.


Me too. I am as soppy as Barnes.
Nonetheless, there is nothing to be frightened of.
Nothing at all.

sábado, 11 de janeiro de 2014

hipérboles


Ter quatro adolescentes à mesa é garantia de um almoço divertido, em que o vinagre se espirra pelo nariz no meio das gargalhadas.
As piadas, nesta idade, jorram-lhes da boca.
- As dietas são como as hipérboles, não têm... esquece!
O que tem piada é a associação em si.
Porque pensando bem, as dietas são mesmo como as hipérboles.

domingo, 5 de janeiro de 2014

o ano novo parece igual ao velho...


31 de dezembro de 2013 (o do meio)
- Mãe, eu vou querer ser pai, quando for grande.
- Ai sim?
- Ontem gostei tanto de estar a fazer festinhas ao Chico, à noite, e adormecê-lo. Deve ser mesmo bom ser pai!

1 de janeiro de 2014 (o mais novo)
- Mãe, se o Vasco me der um pontapé nos testículos e os rebentar eu não posso ter filhos, pois não?
- Se rebentarem mesmo, não.
- Mas com estes testiculos eu posso não ter filhos, se não quiser, pois posso?
- Claro!

4 de janeiro de 2014 (o mais velho)
- Mãe, porque é que temos de ler livros, para a escola, que não nos interessam?
- Porque a escola não está interessada no que vos interessa, basicamente.
- É que se fosse ler um livro que me interessasse... Agora assim...


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

ler perdidamente

(como amar)
estavam ambos nas prateleiras de literatura infanto-juvenil.
brilhavam. como se pudessem dizer-me que eram aqueles que precisava de ler.

a história de um beijo.

a história de uma linha desenhada pelo senhor da Caneta.

 
ainda bem que sei que literatura é só literatura e que gosto especialmente quando os livros são ilustrados.
são para ter na mesinha de cabeceira, junto com Julian Barnes, Valter Hugo Mãe, Flaubert, Afonso Cruz, Henry James e Manuel António Pina, claro.


domingo, 22 de dezembro de 2013

humanos


As perguntas continuam a saltar do banco de trás do carro.
Desta vez, no dia em que fomos ver o primo novo.
- Mãe, de onde é que vêm os humanos?
Teoria da evolução de Darwin, blá. blá, blá...
- Pois, aquele amigo do Vasco, o preto, esse evoluiu bastante!

sábado, 30 de novembro de 2013

o senhor Pina


o senhor Pina faz-me muita falta.
agora que tenho um aluno que me chama Puffi (diminutivo carionhoso de professora) tenho vontade de entrar nos sonhos do senhor Pina como fazia o ursinho Puff.
e comer-lhe o mel de rosmaninho e fazer com ele uma expedição à procura da poesia.
ainda que continue a tê-lo sempre junto a mim,
o senhor Pina faz-me muita falta.

domingo, 17 de novembro de 2013

desumanização

o último livro de Valter Hugo Mãe é absolutamente espantoso.
não que os anteriores não o sejam.
mas conseguir transformar a experiência de um irmão morto numa obra de literatura não é para qualquer um.
a profundidade do tema convoca a boca do inferno.
a dor metamorfiza-se na terra islandesa.
a solidão evoca o paradoxo dos gémeos.
e, no entanto, o livro não magoa, não dói.
pelo contrário, alivia.
só lamento não gostar da capa, ainda que da magnífca Cristina Valadas.
ninguém é perfeito.


sábado, 16 de novembro de 2013

livros



a minha paixão por livros não é coisa da infância, creio.
foi uma coisa que se foi construindo ao longo das páginas
das letras e das imagens sulcadas nos vários momentos da vida.
se tivesse muito dinheiro construia
uma biblioteca.
inteira.
forrada de livros do chão ao teto.
forrada de histórias.
forrada de vida.
e passava lá muitos dias.
dias inteiros.
só a ler.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

rien à déclarer



um verdadeiro jeune homme circula atualmente pelas aulas de francês dos mais velhos.
o A. já tinha falado dele.
hoje foi o V.
- os meus colegas tiveram que pedir à professora para lhe perguntar se em Paris nevava.
- e tu?
- eu estive a falar com ele sobre Les Choristes e Rien à Declarer...
- e ele conhecia os filmes?
- claro! achas?
eu acho. acho que é baba de mãe. pura. da mais peganhenta!

olhos


- Mãe, o Zé Miguel, que tem olhos na frente só para enfeitar...
- Como?
- Sim, parece que tem olhos na frente para enfeitar: está sempre a cair. E eu, que às vezes também só tenho olhos à frente para enfeitar...
Ainda antes de ler Tim Burton, o rato já tem metáforas de rapaz com pregos nos olhos!

sábado, 19 de outubro de 2013

virar o mundo de dentro p'ra fora


a ver se o mundo assim melhora.
foi assim que os Gambozinos cantaram hoje, na igreja das Carmelitas, na celebração do primeiro aniversário da morte do Manuel António Pina.
foi muito bonito.
um coro profano a cantar numa igreja.
um coro de crianças a cantar para um adulto.
um coro é das coisas mias belas que há.
foi muito bonito.
emocionei-me.
gostei muito. muito.
agora tenho na cabeceira o Pina, o Mãe e o Cruz.
de livros e silêncio me alimento.
e de filmes. os filmes são as guloseimas do alimento.
e a propósito de filmes e coros, este filme é para ver.
mesmo.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

da barriga


Sete e quarenta e cinco da manhã.
Do banco de trás do carro salta a pergunta:
- De onde é que nós nascemos?
- Da mistura da sementinha do pai com...
- Não é isso. Se nascemos sempre da barriga, houve alguém que não nasceu da barriga!
Seguem-se as teorias criacionistas e evolutiva.
Coisa de pouca monta para começar o dia!
Com os ratos é assim: nunca se sabe o que nos espera.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

the importance of being earnest


- Sou o mais pequeno a partir dos cinco anos...
- Deixa lá. O Miguel também foi sempre o mais pequeno e é o Super Miguel.
- Pois, mas eu sou Rato Chico e ser rato não é bom.
- Não?
- Claro que não! És apanhado pelos gatos.
(desenha-se-lhe um sorriso matreiro na cara)
- Ninguém gosta de ratos, principalmente a Jonita!
É tão bonito conseguirmos ter a Jonita dentro de nós assim, de vassoura na mão, a matar ratos com o Afonso agarrado  a ela a chorar "não mates, não mates!".
E isto de ser rato tem muito que se lhe diga.

Fernando


- Mãe, vens desenhar, ou não?
- Espera só um minuto, tenho de fazer chichi.
- Não tens nada.
- Claro que tenho, também sou uma pessoa...
- Não és nada, és uma mãe!
- E tu, és uma pessoa?
- Eu não! Eu sou um filho.
- E então quem é que são as pessoaa? Dá-me um exemplo.
- Pessoas?... Não sei... Não há. Eu não conheço nenhuma, pelo menos.
- Então conheces o quê?
- Mães, filhos, avôs, tios...
- E não são pessoas?
- Não, são todos mães, filhos, pais, irmãos.
Como dizia o nosso querido M. A. Pina  dos gambozinos: se não vistes nenhum de nós é porque não existimos, também não existis vós porque também não vos vimos!

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

please, fasten your seatbelts!


Ontem à noite, enquanto líamos na cama.
- Olha, mãe, tem cinto!
- Chama-se cordão umbilical...
- É cinto é, olha!  É para não bater aqui (aponta para o extremo da barriga na imagem)!
É esta visão de rato que eu invejo...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

geocaching

as férias são sempre especiais.
mas descobrir que o mundo está minado de surpresas agradáveis feitas por pessoas com quem nos cruzamos diariamente é muito bom.
a tecnologia ao serviço da vontade de andar a passear!
nós já lá deixámos duas caixinhas, só falta serem validadas.






mais informações em geocahing.com

domingo, 21 de julho de 2013

volta ao bilhar grande

os gambozinos saíram à rua


os desenhos e impressões espalharam-se pelos cafés.



a música invadiu as garagens de pneus.



o teatro o salão de cabeleireiro e a oficina.




no restaurante jogou-se xadrez.



no fim, a casa mãe abriu-se aos vizinhos e relembrou-se a Invicta Film, que morou ali tão perto.


a noite acabou depois das duas manhã, a antecipar uma manhã de uma imensa saudade dos dias passados juntos.

sábado, 13 de julho de 2013

prego









o jogo do prego voltou à praia.
pela mão dos gambozinos.
são jogos destes que fazem crescer.
uma das cinco coisas perigosas que os nossos filhos devem fazer!