Das histórias nascem histórias

Das histórias nascem histórias
um poema visual de Fernanda Fragateiro

sexta-feira, 15 de julho de 2011

ainda as cores


O F. está a fazer desenhos e vai rebolando entre o balde dos lápis e o papel.
Com dois lápis sobre a barriga, pergunta:
- Qual é mais escuro, mãe, o preto ou o azul escuro?
- Talvez o preto...
- Mas o azul escuro também é muito escuro, não é?
- Sim...
- Mais escuro do que o preto...
- Talvez..
- São os dois escuros, não é?
- Sim...
- Os dois escondem...
Vira-se e começa a pintar com o lápis preto sobre uma parte vermelha do desenho feito.
- Vês? Esconde...
A seguir faz o mesmo com o lápis azul escuro sobre outra parte do desenho.
- Este também esconde...
Pois, dir-se-ia que são cores esconditivas!

domingo, 10 de julho de 2011

cor de pele


Quando os alunos me pedem para os ensinar a fazer cor de pele para pintar, costumo perguntar:
- Pele de quem?
O F. hoje de manhã, nos miminhos dos lençóis, colocou a questão com a perspicácia que o vem caracterizando nos últimos tempos:
- Mãe, de que cor é a nossa pele? Não é branca, pois não?
- Não. Branca não.
- É estranparente? Cinzenta?
- Transparente e cinzenta... acho que também não...
- Então de que cor é?
- É... uma cor assim esquisita... tipo cor de burro quando foge.
O F. ri-se.
- Nós dizemos que somos brancos mas não somos, F.. A T. também não é preta, é castanha.
- Mas o pai da Tita é preto!
- Isso é verdade... mas nem todos os pretos são pretos. Nós também não somos brancos.
A propóstio, de que cor somos nós, os brancos? Cor de rosa, como no novo acordo ortográfico? Ou cor de laranja? E porque não cor de porco ou cor de tangerina? Assim como assim, vamos ficar de uma cor sem hífen... Como a couve flor!