Das histórias nascem histórias

Das histórias nascem histórias
um poema visual de Fernanda Fragateiro

sábado, 1 de outubro de 2011

gays e vegetarianos


Aqui há uns seis meses atrás, numa conversa a caminho da escola, no banco de trás do meu carro, começou uma conversa muito preconceituosa em relação a pessoas com opções sexuais diferentes das nossas (das minhas, para já, neste caso!). A coisa já se vinha a arrastar há uns tempos e os manos mais velhos estavam a começar a passar a barreira do razoável e o mais pequeno estava em risco sério de contágio, aos quatro anos.
Resolvi cortar a direito e dizer-lhes que temos um amigo gay de quem eles gostam muitíssimo e que nem suspeitam das opções sexuais dele.
Quando proferi o nome dele, ouviu-se um PUM! sonoro no chassi do carro. Dois queixos tinham caído, de bocas escancaradas, que expiravam almas incrédulas perante a revelação.
Depois, recompuseram-se aos poucos, fazendo uma espécie de análise comportamental do estereótipo gay e do nosso amigo. E os preconceitos terminaram exactamente ali, naquele dia, naquele momento.
Agora, o V. o mais que faz é tentar perceber como é que se detecta e, de vez em quando, tenta comparações e interroga-me sobre a fiabilidade das suas percepções. Normalmente não acerta (até porque, tanto quanto sei, só temos um amigo gay!).
Mas o que é verdadeiramente extrordinário é que assumiu uma espécie de classificação de Lineu para os homossexuais e geralmente apresenta-a à mesa, no meio dos imprompérios contra a sopa de legumes:
- Ser gay é como ser vegetariano!
E depois desanca nos pais de uns colegas de escola que os obrigam a ser vegetarianos:
- É que o R. até gosta de peixe, mãe! ele já provou, mas os pais não o deixam comer!
Bom, um ponto de vista é sempre um ponto de vista e qualquer ponto de vista, pelo menos aos nove anos, é legítimo. Digo eu...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

depilação higiénica


Não sei como é nas casas com meninas, mas aqui os meus rapazes sempre souberam de tudo.
O A. fez várias vezes instalações dignas de prémios internacionais com pensos higiénicos e o V. nunca se obstou de comentar o meu bigode de creme descolorante.
Ontem, o F. também se revelou já completamente ao nível das práticas femininas, com grande astúcia.
Sentando no balcão da casa de banho, tirou a proteção de um penso higiénico diário carefree (passe a publicidade) e aplicou-o sobre a canela, de cima para baixo como mandam as instruções (não dos pensos, claro!):
- Posso tirar os pêlos, mãe?
Claro, pois então? Haverá método mais higiénico?
E num gesto eficaz e quase profissional, arrancou com rapidez o dito penso, de baixo para cima, como manda a lei, estampando-se-lhe um sorriso na cara.
Apesar de tudo, a semelhança entre uma banda de cera depilatória e um penso higiénico não é pura coincidência!