Das histórias nascem histórias

Das histórias nascem histórias
um poema visual de Fernanda Fragateiro

quinta-feira, 4 de março de 2010

o avô deles

O V. à noite, na cama, barriga para o ar, os olhos verdes, pensativos:
- Sabes, mãe, aquilo de eu e a Margarida... eu nunca vou casar com ela, mas se eu casasse com ela e tivesse filhos... eles iam ter um bom avô!
Fico tão contente quando eles gostam assim de outros adultos!

É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

O sol trouxe os amigos. A Sarita, ontem. A Emília, hoje.
Há alturas em que me sinto um iman. As pessoas bonitas vêm colar-se a mim, sem lhes pedir e sem que peçam nada.
A Emília, eu e a Sarita somos três gerações de uma escola que já ninguém mais vai conhecer.
Uma escola pública em que a vida era mais importante que o resto e, por isso, amarravam-se fios em volta de pessoas como nós.
E a única que ficou no sistema fui eu...
A vida é irónica, para quem ouviu ler As aventuras de João sem medo pela voz doce da Emília!

terça-feira, 2 de março de 2010

à noite, os caixotes do lixo

O escritório do Arquitecto C. Prata vai mudar-se daqui, consta. Um ror de meninas carregaram pesados caixotes atafulhados de catálogos de materiais de construção para junto dos caixotes do lixo.
Não resisti. Debaixo de chuva, fomos os quatro vasculhar nos caixotes.Uma visita de estudo ao entulho precioso. E viemos para casa carregados de quadradinhos de linóleos coloridos, rectângulos de grés de mil cores e outras preciosidades.
O V. e o A. montaram uma loja. O F. ficou a adormecer fascinado com os montes de quadradinhos coloridos que descolámos dos catálogos encharcados. Já temos com que brincar durante muitas semanas!
Pode ser que amanhã as meninas voltem. E deixem mais brinquedos para nós...

segunda-feira, 1 de março de 2010

às armas

O F. inventou uma nova ameaça:
- O meu pai tem uma pistola e está partida!
(é verdade, era o único brinquedo que guardara da sua infância e eles partiram-na...)

domingo, 28 de fevereiro de 2010

domingo com chuva


Acho que estava à espera deste dia desde que o F. fez um ano.
De repente, depois do som da tesoura a cortar o papel, dos baldes de lápis a pousar no papel teimoso, sempre a enrolar-se, e do schhh das canetas a deslizar, o F. veio chamar-me.
Saí do meio das mesas da sala de jantar do feliz idade e...
Elas estavam lá! Todas, tantas! Vermelhas, à volta de um sofá azul e com letras em cima.
Ainda bem que há domingos com chuva.