Das histórias nascem histórias

Das histórias nascem histórias
um poema visual de Fernanda Fragateiro

sábado, 12 de janeiro de 2013

sabedoria

(2013 é, decididamente, o ano das palavras. Estou incapaz de inserir imagens no blog. Deve ser algum desígnio divino que me está a ser enviado através do ciberespaço.)

O A. é o mais parecido comigo em matéria de mãos. Tem formigueiros. Bichos carpinteiros.
Precisa das mãos para transformar as ideias em coisas.
Desde as férias do natal que anda a construir um jogo elétrico.
Mas quer ser independente (que é o que se quer com 13 anos!) e está a fazer tudo sozinho, apenas pedindo pontualmente uma ajuda. Hoje:
- Mãe, tu que sabes muito explicas-me aqui isto?
- Eu?! Eu não sei muito de nada...
- Sabes muito de ser!
A uma afirmação destas responde-se com um beijo lambuzado (que eles limpam com a mão logo logo) e depois vai-se a correr para a casa de banho pingar a baba para o lavatório.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

a verdadeira história dos pássaros

Se não fosse 10cm mais baixo, 10kg mais gordo e 10 anos mais velho do que o meu irmão, tinha-lhe feito um mimo nas costas para o surpreender. Quando lhe vi o rosto era ele. Com aquele ar familiar de filho de mil homens.
Não sei se ainda está na Islândia, a escrever. Mas hoje veio ao Porto, provavelmente apenas para que no dia 7 de janeiro de 2013 às 14h15m eu pudesse sentir o estremecimento de andar à volta dele durante uns minutos e de lhe ouvir a voz macia.
Não resisti ao jogo da presença da figura pública. Andei à volta de mr. esgar, até o homem que inventou a máquina de fazer espanhóis perceber que fazia questão de não o incomodar. Dei-lhe tempo para a contabilidade e circulei de modo a que o nosso reino se invertesse e passasse a ser ele a seguir-me. A dois passos de distância,  descemos um lance inteiro de degraus. Inverti 180º num silencioso corpo de fuga para ter a certeza que o deixava ir à sua vida.
Só me senti assim uma vez. Foi há para aí trinta anos, quando o Chico entrou em palco no Coliseu.
Ficou-me sempre uma espécie de remorso...
Se fosse cronista tinha tido que escrever sobre isto. Como felizmente não sou, fico apenas com a memória de ter estado a dois degraus de distância de quatro tesouros e ter tido a delicadeza de não lhes tocar. Escrevi pela minha mão a história do homem calado. Os pássaros são criaturas livres e devem voar assim. No mesmo céu, sem se falarem. Trocando voos, à distância de um a penas.
Escondida na cor amarga do fim da tarde, saboreio o resto da minha alegria seguido da remoção das almas.
Há gajos que nasceram para nos fazer estremecer. Uma das mais belas coisas do mundo!
"a partir de agora estarei em território sagrado, escrevendo.
virei à tona para respiro, para me lembrar de quem sou, mas estarei profundamente limitado nos contactos.
não responderei a mensagens, não poderei aceitar convite algum, não me desconcentrarei.
este é o tempo fundamental do meu trabalho. preciso deste tempo e desta disciplina para ser quem sou.
estarei com esta e outras fotografias na cabeça. o lago que gelou e me deixou passear em cima como se o lugar dos peixes tivesse enlouquecido. gostei muito. ficou lindo."

domingo, 6 de janeiro de 2013

pelo umbigo

(O meu blogger recusa-se a inserir uma imagem nesta postagem... Lá terá as suas razões!)

Aos seis anos, o F. vê o mundo ao nível do meu umbigo. Descobrimos os dois anteontem.
Sim, porque antes disso, ele já viu o mundo ao nível dos meus joelhos, e por aí acima...
O que é preciso explicar aos adultos para que percebam o ponto de vista?
O deles aumenta desmedidamente ao longo da infância. O nosso tende a diminuir.
O meu objetivo para este ano é ir subindo o meu ponto de vista, até ver o mundo em planta.
Um pequeno passo para o homem, um gigantesco salto para a humanidade.
Digo eu. Fim de citação.