Das histórias nascem histórias
sábado, 28 de maio de 2011
o primeiro gomo da tangerina
Quando se tem três filhos, o primeiro gomo da tangerina acontece infinitas vezes.
As tangerinas são tantas, os gomos infindáveis, e os gestos sempre sábios.
O v. foi ontem, pela primeira vez, à casa da música ver/ouvir a orquestra sinfónica tocar mozart.
O a. foi pela segunda vez (ainda que a primeira se lhe tenha diluído na memória) ver/ouvir os stomp no coliseu.
O f. ficou em casa, pela primeira vez (porque nisto é sempre a primeira vez!), com a mãe só para ele.
Eu comecei a ler caim (como se nota pela ausência de maiúsculas).
E o pai foi para a cama, muito muito cedo, pela primeira vez com a alma cheia de nós.
Porque na noite anterior tivemos uma longa e profunda conversa a cinco (sim que o f. também ouve, embora nem sempre fale) sobre a vida, a morte, os pontos de vista e experiências pessoais.
Os manos ficaram a perceber que nisto da vida não há que tomar partidos.
No fundo, o sumo e o rumo da vida.
Num beijo.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
o segredo da sanduíche
Sem ele, a fratria não tinha graça. A tríada não era tríada, era díada.
E as relações a três são infinitamente mais ricas que as relações a dois, já lá explicava George Simmel (e eu, por minha vez, na minha tese de doutoramento!).
Mas, ser o irmão do meio, com tudo o que isso tem de música para os nossos ouvidos (viva o Sérgio!) como dizia a M., que é prima deles, quando tinha quatro anos "deve ser um bocado apertado". E é, de facto!
O F. parece uma ventosa. Basta ver-me e cola-se-me à existência sem intervalos.
O A. basta não ter mais nada de interessante para fazer e suga-me a existência com programas de terapia ocupacional intensiva, que incluem infalivelmente trabalhos para a escola, projectos de mil coisas que quer fazer ou saídas inopinadas para concretizar essas coisas.
No meio (literalmente) disto está o V., que parece uma daquelas existências mágicas, pairando tranquilidade (até ao momento da fúria!) entre nós, com arremessos de provocação, humor e barulho (muito barulho, porque canta desalmadamente, batuca cruelmente em qualquer superfície dura e engoliu, de certeza, um disco do Bob McFerry - aquele que desapareceu há uns meses!).
O V. é uma caixa de surpresas. Mas daquelas sem chave. Não se arranca nada dele. Só muito de vez em quando sai de lá um suspiro de ar cujo aroma me cabe decifrar: angústia, medo, ciúme, insegurança, revolta...
Ontem, depois de chegarem de um fim-de-semana cultural com os avós, surpreendentemente, abriu-se momentaneamente a tampa da caixa.
- Tive saudades tuas, mãe!
E quase me vieram as lágrimas aos olhos... porque às vezes é difícil lembrarmo-nos que o V. tem sentimentos como os nossos!
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