Das histórias nascem histórias

Das histórias nascem histórias
um poema visual de Fernanda Fragateiro

sábado, 9 de março de 2013

a colheita de 71

valter hugo mãe e afonso cruz.
a colheita de 71.

"Não vou descansar até que todos os leitores descubram o Afonso Cruz, Já prometi usar de violência física para obrigar um a um a ler a maravilha que ele escreve.. e não estou a brincar.
Faz-me a alma luxuosa. Passo a ter jóias na imaginação"
(Valter Hugo Mãe)


evergreens é também um luxo. por dentro e por fora.


cá em casa bastou mostrar um bocadinho dos livros e dos discos. e eles ficaram maravilhados.
eu... eu estou completamente dependente.
mas eu sou assim. uma obsessiva.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Jonita



Estamos todos com os olhos cansados das lágrimas e os corações assustados das saudades que nunca vamos matar. Na quinta feira à noite soube que estavam à espera da hora certa para lhe desligarem as máquinas e tive de guardar tudo dentro de mim até sexta às seis da tarde, quando juntei os três
à minha volta e partilhei com eles a notícia. Julguei que ia rebentar. E desde aí estamos mais juntos, mais próximos, mais certos do que é importante para nós.
Os rituais antropológicos de celebração da vida no momento da morte são de uma força telúrica esgotante. No domingo, revolvemo-nos como o mar, como a terra. Subimos montes e calvagámos planícies em segundos. Vivemos a felidade dentro da mais profunda tristeza. E descobrimos que os extremos se tocam. Porque a vida é um cíclo fechado e por isso não tem fim, disse a Teia. Mas o infinto nem sempre cabe dentro de nós e derramam-se-nos as lágrimas como ondas que nos querem encharcar o corpo para que nos lembremos de o enxugar.
Era mãe. E a sua filha mais velha, aTeia, como não podia deixar de ser leu um excerto de O Principezinho. E ganhámos o trigo, como a raposa. E depois cantámos. Porque a vida dela era também feita de canções. E a mãe dela sorriu, um sorriu grande. Feliz por ter dado à luz uma filha enorme.
Só quero que um dia me recordem assim. E chorem, com o coração encharcado em memórias boas, boas, como eram os beijos dela, que nos ficavam agarrados à bochecha como o sol quando quase nos queima.
Só quero que um dia os meus filhos fiquem no ar, em pleno voo, como ficaram os dela. E precisem apenas do vento para continuar a voar.
A vida é uma missão e a Jonita cumpriu-a, disse o Afonso.
Agora a Jonita está espalhada em todos nós, disse o meu pai.
Que bom estar protegida entre duas gerações tão sábias.