Das histórias nascem histórias

Das histórias nascem histórias
um poema visual de Fernanda Fragateiro

sábado, 13 de março de 2010

o dia em que a mãe ficou com barriga de chaminé

No carro, os três no banco de trás. O V. e o A. contam que uma vez um cão de uma vizinha ficou com a cauda entalada na porta do elevador. A conversa estende-se, sobre caudas, e como as caudas são o prolongamento da coluna vertebral. Explico-lhes que nós próprios, na barriga da mãe, temos uma pequena cauda que depois enrola para dentro e se transforma no cóccix. O F. intervém, esclarecendo os irmãos em tom doutoral:
- Vocês estavam na barriga da minha mãe, a mãe C., tinha uma chaminé, depois vinha o pai com uma escada muito grande e desciam, desciam e nasciam! Era assim!
Bom, já tinha ouvido muitas teorias sobre técnicas de parto, mas confesso que a da chaminé me escapou!
Alguma semelhança entre uma mãe e um pai natal deverá ser mera coincidência, imagino...

sexta-feira, 12 de março de 2010

PNB

Eu leio, tu lês... ele não lê. A coisa era assim.
No presente, a conjugação é outra.
Eu leio, tu lês, ele não lia.
O A. não lia. Agora lê. Graças à Rosa e a uma coisa que vai rebentar de vez com o fascizante PNL.
O PNB. Plano Nacional de Bidé.
Não é piada. É um assunto muito sério. A ideia é da Rosa. E funciona!
Ontem de manhã o V. veio-me perguntar:
- Ó mãe, a regra do bidé não é que só pode ler quem está lá? É que o A. não sai de lá e eu também quero ler!
Exactamente. O A. agora senta-se e não pára de ler graças ao PNB.
A estratégia é simples: põem-se dois ou três livros no bidé e deixam-se lá ficar.
Eu leio, tu lês, ele lê, nós lemos, vós leis, eles lêem.

Porque, como toda a gente sabe, não há sítio mais sossegado para ler!

quinta-feira, 11 de março de 2010

ovos misteriosos



Às quartas feiras é dia de ACORDA. Os manos grandes divertem-se sob a orientação dos fantásticos alunos da Paula (a Carla, o João Pedro, o Hugo e a Rita) e o F. e o seu amigo P. brincam e correm alegremente pelo ginásio. Às vezes guerreiam...
Hoje, resolveram o problema com a minha sugestão de chocarem a bola verde que disputavam. E nada como chocar bolas de cores para fazer soltar as bolhas da imaginação. Dos ovos-bolas nasceram crocodilos, pintainhos, elefantes, gatos, sapos e andámos atrás deles pelo ginásio fora.
- Olha que gatinho tão fofinho! - dizia o P.
- Mãe, ouve, este está a fazer barulho... - acrescentava o F.


E, a certa altura, o P. pousou uma bola-ovo no chão e declarou:
- Olha, uma árvore! Nasceu uma árvore do meu ovo!
E uma enorme árvore medrou e medrou e medrou...

quarta-feira, 10 de março de 2010

cidade das maravilhas

Uma escavadora a fazer um buraco mesmo em frente ao portão da escolinha esperava-nos ontem pela manhã. À tarde não resisti a inquirir o F. sobre as obras do saneamento.
- Então, a escavadora?
- Sabes, mãe, estão a fazer uma piscina... uma não, duas: uma para pequeninos, outra para grandes!
- Ai é? E qual é a vossa?
- A dos pequeninos é esta, no passeio e a dos grandes... estás a ver, ali, onde está a outra escavadora? ali é a dos grandes! Sabes, tem muuuuita água!
E dali, seguimos para o parque para aproveitar o sol.
Finalmente, um parque com relva que se pode pisar e onde se deve rebolar, uma caixa de areia, equipamentos inovadores e seguros, um segurança omnipresente, wc auto-higienizado e... muito verde em volta.
Da próxima vez havemos de ir explorar a outra parte da quinta: a floresta. Quem sabe encontraremos criaturas maravilhosas à nossa espera, atrás das árvores ou mesmo penduradas nelas!
Este não é, definitivamente o país das maravilhas, mas tudo depende do campo de visão e, sobretudo, dos olhos que o vêem. E se o país não é, a cidade ainda pode sê-lo. O Porto ainda é, muitas vezes, aos olhos deles (e aos meus, também, sobretudo quando estou com eles) a cidade das maravilhas.

segunda-feira, 8 de março de 2010

o país das maravilhas


O A. e o V. nunca tinham ido ao cinema. Não é ver cinema, é ir ao cinema, mesmo.
Hoje faltaram à escola para entrarem numa sala de cinema, que abre as portas para a rua.
E o V. declarou:
- É isto um cinema? É muito melhor!!!
E estivemos sentados no hall de entrada, à espera do pai e da Sarita e da Emília que vieram connosco para entrar num buraco atrás de um coelho branco.
Tim Burton deixa-me sempre assim. Com a sensação de que caí na tentação de gostar que uma coisa de que não gosto. Pelo menos, completamente.
Mas é inevitável a rendição final ao passeio pelo país das maravilhas. Por mim, dispensava os óculos, as 3D, o som surround e os monstros modernos.
Só me preocupa que alguém vá ver o filme sem antes conhecer a Alice de Carroll e Tenniel. Verá muito menos que nós. As intertextualidades são talhadas à medida de cada um, é inevitável.
Ninguém pode viver os nossos sonhos por nós. Nem mesmo os que passam numa sala de cinema.

domingo, 7 de março de 2010

casa da música

Os Gambozinos são a outra casa deles.
Às vezes, transforma-se na nossa outra casa, também, onde podemos passar uma tarde inteira a ouvir pessoas pequeninas e pessoas menos pequeninas a fazer música.
De repente, transformamo-nos, assim, numa espécie de enorme família musical, graças à Suzana.