Das histórias nascem histórias

Das histórias nascem histórias
um poema visual de Fernanda Fragateiro

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

ler perdidamente

(como amar)
estavam ambos nas prateleiras de literatura infanto-juvenil.
brilhavam. como se pudessem dizer-me que eram aqueles que precisava de ler.

a história de um beijo.

a história de uma linha desenhada pelo senhor da Caneta.

 
ainda bem que sei que literatura é só literatura e que gosto especialmente quando os livros são ilustrados.
são para ter na mesinha de cabeceira, junto com Julian Barnes, Valter Hugo Mãe, Flaubert, Afonso Cruz, Henry James e Manuel António Pina, claro.


domingo, 22 de dezembro de 2013

humanos


As perguntas continuam a saltar do banco de trás do carro.
Desta vez, no dia em que fomos ver o primo novo.
- Mãe, de onde é que vêm os humanos?
Teoria da evolução de Darwin, blá. blá, blá...
- Pois, aquele amigo do Vasco, o preto, esse evoluiu bastante!

sábado, 30 de novembro de 2013

o senhor Pina


o senhor Pina faz-me muita falta.
agora que tenho um aluno que me chama Puffi (diminutivo carionhoso de professora) tenho vontade de entrar nos sonhos do senhor Pina como fazia o ursinho Puff.
e comer-lhe o mel de rosmaninho e fazer com ele uma expedição à procura da poesia.
ainda que continue a tê-lo sempre junto a mim,
o senhor Pina faz-me muita falta.

domingo, 17 de novembro de 2013

desumanização

o último livro de Valter Hugo Mãe é absolutamente espantoso.
não que os anteriores não o sejam.
mas conseguir transformar a experiência de um irmão morto numa obra de literatura não é para qualquer um.
a profundidade do tema convoca a boca do inferno.
a dor metamorfiza-se na terra islandesa.
a solidão evoca o paradoxo dos gémeos.
e, no entanto, o livro não magoa, não dói.
pelo contrário, alivia.
só lamento não gostar da capa, ainda que da magnífca Cristina Valadas.
ninguém é perfeito.


sábado, 16 de novembro de 2013

livros



a minha paixão por livros não é coisa da infância, creio.
foi uma coisa que se foi construindo ao longo das páginas
das letras e das imagens sulcadas nos vários momentos da vida.
se tivesse muito dinheiro construia
uma biblioteca.
inteira.
forrada de livros do chão ao teto.
forrada de histórias.
forrada de vida.
e passava lá muitos dias.
dias inteiros.
só a ler.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

rien à déclarer



um verdadeiro jeune homme circula atualmente pelas aulas de francês dos mais velhos.
o A. já tinha falado dele.
hoje foi o V.
- os meus colegas tiveram que pedir à professora para lhe perguntar se em Paris nevava.
- e tu?
- eu estive a falar com ele sobre Les Choristes e Rien à Declarer...
- e ele conhecia os filmes?
- claro! achas?
eu acho. acho que é baba de mãe. pura. da mais peganhenta!

olhos


- Mãe, o Zé Miguel, que tem olhos na frente só para enfeitar...
- Como?
- Sim, parece que tem olhos na frente para enfeitar: está sempre a cair. E eu, que às vezes também só tenho olhos à frente para enfeitar...
Ainda antes de ler Tim Burton, o rato já tem metáforas de rapaz com pregos nos olhos!

sábado, 19 de outubro de 2013

virar o mundo de dentro p'ra fora


a ver se o mundo assim melhora.
foi assim que os Gambozinos cantaram hoje, na igreja das Carmelitas, na celebração do primeiro aniversário da morte do Manuel António Pina.
foi muito bonito.
um coro profano a cantar numa igreja.
um coro de crianças a cantar para um adulto.
um coro é das coisas mias belas que há.
foi muito bonito.
emocionei-me.
gostei muito. muito.
agora tenho na cabeceira o Pina, o Mãe e o Cruz.
de livros e silêncio me alimento.
e de filmes. os filmes são as guloseimas do alimento.
e a propósito de filmes e coros, este filme é para ver.
mesmo.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

da barriga


Sete e quarenta e cinco da manhã.
Do banco de trás do carro salta a pergunta:
- De onde é que nós nascemos?
- Da mistura da sementinha do pai com...
- Não é isso. Se nascemos sempre da barriga, houve alguém que não nasceu da barriga!
Seguem-se as teorias criacionistas e evolutiva.
Coisa de pouca monta para começar o dia!
Com os ratos é assim: nunca se sabe o que nos espera.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

the importance of being earnest


- Sou o mais pequeno a partir dos cinco anos...
- Deixa lá. O Miguel também foi sempre o mais pequeno e é o Super Miguel.
- Pois, mas eu sou Rato Chico e ser rato não é bom.
- Não?
- Claro que não! És apanhado pelos gatos.
(desenha-se-lhe um sorriso matreiro na cara)
- Ninguém gosta de ratos, principalmente a Jonita!
É tão bonito conseguirmos ter a Jonita dentro de nós assim, de vassoura na mão, a matar ratos com o Afonso agarrado  a ela a chorar "não mates, não mates!".
E isto de ser rato tem muito que se lhe diga.

Fernando


- Mãe, vens desenhar, ou não?
- Espera só um minuto, tenho de fazer chichi.
- Não tens nada.
- Claro que tenho, também sou uma pessoa...
- Não és nada, és uma mãe!
- E tu, és uma pessoa?
- Eu não! Eu sou um filho.
- E então quem é que são as pessoaa? Dá-me um exemplo.
- Pessoas?... Não sei... Não há. Eu não conheço nenhuma, pelo menos.
- Então conheces o quê?
- Mães, filhos, avôs, tios...
- E não são pessoas?
- Não, são todos mães, filhos, pais, irmãos.
Como dizia o nosso querido M. A. Pina  dos gambozinos: se não vistes nenhum de nós é porque não existimos, também não existis vós porque também não vos vimos!

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

please, fasten your seatbelts!


Ontem à noite, enquanto líamos na cama.
- Olha, mãe, tem cinto!
- Chama-se cordão umbilical...
- É cinto é, olha!  É para não bater aqui (aponta para o extremo da barriga na imagem)!
É esta visão de rato que eu invejo...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

geocaching

as férias são sempre especiais.
mas descobrir que o mundo está minado de surpresas agradáveis feitas por pessoas com quem nos cruzamos diariamente é muito bom.
a tecnologia ao serviço da vontade de andar a passear!
nós já lá deixámos duas caixinhas, só falta serem validadas.






mais informações em geocahing.com

domingo, 21 de julho de 2013

volta ao bilhar grande

os gambozinos saíram à rua


os desenhos e impressões espalharam-se pelos cafés.



a música invadiu as garagens de pneus.



o teatro o salão de cabeleireiro e a oficina.




no restaurante jogou-se xadrez.



no fim, a casa mãe abriu-se aos vizinhos e relembrou-se a Invicta Film, que morou ali tão perto.


a noite acabou depois das duas manhã, a antecipar uma manhã de uma imensa saudade dos dias passados juntos.

sábado, 13 de julho de 2013

prego









o jogo do prego voltou à praia.
pela mão dos gambozinos.
são jogos destes que fazem crescer.
uma das cinco coisas perigosas que os nossos filhos devem fazer!


sexta-feira, 5 de julho de 2013

o irmão do meio

Earl Sandwich

o irmão do meio é o queijo e o fiambre da tosta mista.
o ovo, a alface e o tomate da sandwich americana.
para que a sandwich seja boa é preciso que o pão seja estaladiço mas fofo, fresco e do tamanho certo para o que leva dentro.
para que a sandwich americana seja boa é preciso que o ovo esteja no ponto, a alface seja fresca e o tomate não seja demasiado maduro.
para que a tosta mista seja boa é preciso que não torre demasiado, que o queijo não derreta para fora e o fiambre não queime nas beiras.
temos tudo isto.
só falta mesmo acertar o tamanho do pão.
é que a fatia de cima ainda é muito grande e a de baixo muito pequena.
e a sandwich escangalha-se, a tosta desmonta-se quando é apertada e o irmão do meio cai no prato, no guardanapo e, por vezes, mesmo no chão.
mas eu apanho-o sempre e volto a pô-lo no meio dos outros.
pão sem nada no meio não é sandwich.
pão com pão não sabe senão a pão com pão.
o irmão do meio torna o pão apetitoso.
nem sempre dá é para aguentar a sandwich ou prensar a tosta...
mas do ponto de vista filogenético, a sandwich também vem depois da fatia de pão com coisas em cima!


quinta-feira, 4 de julho de 2013

superRato


ontem quando entrei nos gambozinos para colher o rato, fui logo informada por várias vozes animadas:
- o Chico hoje fez uma coisa muito boa, ganhou o superT do 1º ano!
o rato estava a desenhar e continuou. não se deu por achado.
espetei-lhe um beijo gordo na bochecha e sorriu.
ficou ali ainda uns minutos e depois veio ter comigo.
estava com um ego tão grande que quando entrou na banheira, metade da água saiu!

segunda-feira, 1 de julho de 2013

rato mia


o meu rato mia. couto, entenda-se.
as palavras saem-lhe da boca como ao mia dos dedos.
congelhar. (congelhar é um congelar engelhado. só pode.)
empulheta. (empulheta será o objecto que o governo usa para fazer o tempo passar enquanto nos empulha.)
o meu rato mia. e eu mio também.
alguém quer um engelado?
o ampulha gaspar já foi de vela. é favor seguirem-lhe o exemplo!
gosto muito quando as palavras se nos encaramelam na boca, como acontecia com o menino do pina.
cada homem é uma raça. mas cada rato é a raça inteira.

bicicletas

1979

Não sei números. Mas sei que muitas das crianças que conheço não sabem andar de biclicleta. E as que sabem fazem-no mal. Sem confiança.
Uma escola que se preocupa em ensinar as crianças a andar de bicicleta e que as põe a andar pelas ruas de Miramar existe.
Há cerca de cinquenta meninos e meninas que têm a sorte de conhecer esta escola.
Três são os meus!
Sabem todos andar de bicicleta, que eu não deixo estas coisas por mãos alheias.
Mas ter a oportunidade de andar numa Vilar enferrujada não é para todos os dias!

sábado, 29 de junho de 2013

ainda a sopa


Este livro é de 1977.
Eu tinha dez anos e nunca tive um livro assim.
Absolutamente delicioso.
De uma simplicidade extraordinária.
Com um sentido de humor requintado.
Cheio de ilustrações belíssimas.
Tive uma infância muito feliz.
Mas não feliz assim.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

sopa de rato

Ontem. Oito da tarde. Nos Gambozinos o rato desafia um enorme para jogar xadrez. Oito e dez. O enorme não desiste de ganhar ao rato e deixa os colegas seguirem para a aula de música. Oito e quinze. O rato faz um xeque imparável ao enorme!
Vou dar-lhe uma prenda.


Afinal, não é todos os dias que um rato leva a melhor a um enorme!
A vida dentro das casas dos Gambozinos ultrapassa a imaginação... é verdadeira arte, eu diria.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Tintin et sa copine

O desafio era: criar uma parceira para o Tintin.
O resultado foi muito bom!