Estamos todos com os olhos cansados das lágrimas e os corações assustados das saudades que nunca vamos matar. Na quinta feira à noite soube que estavam à espera da hora certa para lhe desligarem as máquinas e tive de guardar tudo dentro de mim até sexta às seis da tarde, quando juntei os três
à minha volta e partilhei com eles a notícia. Julguei que ia rebentar. E desde aí estamos mais juntos, mais próximos, mais certos do que é importante para nós.
Os rituais antropológicos de celebração da vida no momento da morte são de uma força telúrica esgotante. No domingo, revolvemo-nos como o mar, como a terra. Subimos montes e calvagámos planícies em segundos. Vivemos a felidade dentro da mais profunda tristeza. E descobrimos que os extremos se tocam. Porque a vida é um cíclo fechado e por isso não tem fim, disse a Teia. Mas o infinto nem sempre cabe dentro de nós e derramam-se-nos as lágrimas como ondas que nos querem encharcar o corpo para que nos lembremos de o enxugar.
Era mãe. E a sua filha mais velha, aTeia, como não podia deixar de ser leu um excerto de O Principezinho. E ganhámos o trigo, como a raposa. E depois cantámos. Porque a vida dela era também feita de canções. E a mãe dela sorriu, um sorriu grande. Feliz por ter dado à luz uma filha enorme.
Só quero que um dia me recordem assim. E chorem, com o coração encharcado em memórias boas, boas, como eram os beijos dela, que nos ficavam agarrados à bochecha como o sol quando quase nos queima.
Só quero que um dia os meus filhos fiquem no ar, em pleno voo, como ficaram os dela. E precisem apenas do vento para continuar a voar.
A vida é uma missão e a Jonita cumpriu-a, disse o Afonso.
Agora a Jonita está espalhada em todos nós, disse o meu pai.
Que bom estar protegida entre duas gerações tão sábias.
Será possível aquilo que acabo de ler?
ResponderEliminarQue bela homenagem, este texto. Ainda bem que as nossas vidas foram tocadas por ela.Tornámo-nos melhores.
Cláudia Almendra