Das histórias nascem histórias

Das histórias nascem histórias
um poema visual de Fernanda Fragateiro

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

a verdadeira história dos pássaros

Se não fosse 10cm mais baixo, 10kg mais gordo e 10 anos mais velho do que o meu irmão, tinha-lhe feito um mimo nas costas para o surpreender. Quando lhe vi o rosto era ele. Com aquele ar familiar de filho de mil homens.
Não sei se ainda está na Islândia, a escrever. Mas hoje veio ao Porto, provavelmente apenas para que no dia 7 de janeiro de 2013 às 14h15m eu pudesse sentir o estremecimento de andar à volta dele durante uns minutos e de lhe ouvir a voz macia.
Não resisti ao jogo da presença da figura pública. Andei à volta de mr. esgar, até o homem que inventou a máquina de fazer espanhóis perceber que fazia questão de não o incomodar. Dei-lhe tempo para a contabilidade e circulei de modo a que o nosso reino se invertesse e passasse a ser ele a seguir-me. A dois passos de distância,  descemos um lance inteiro de degraus. Inverti 180º num silencioso corpo de fuga para ter a certeza que o deixava ir à sua vida.
Só me senti assim uma vez. Foi há para aí trinta anos, quando o Chico entrou em palco no Coliseu.
Ficou-me sempre uma espécie de remorso...
Se fosse cronista tinha tido que escrever sobre isto. Como felizmente não sou, fico apenas com a memória de ter estado a dois degraus de distância de quatro tesouros e ter tido a delicadeza de não lhes tocar. Escrevi pela minha mão a história do homem calado. Os pássaros são criaturas livres e devem voar assim. No mesmo céu, sem se falarem. Trocando voos, à distância de um a penas.
Escondida na cor amarga do fim da tarde, saboreio o resto da minha alegria seguido da remoção das almas.
Há gajos que nasceram para nos fazer estremecer. Uma das mais belas coisas do mundo!
"a partir de agora estarei em território sagrado, escrevendo.
virei à tona para respiro, para me lembrar de quem sou, mas estarei profundamente limitado nos contactos.
não responderei a mensagens, não poderei aceitar convite algum, não me desconcentrarei.
este é o tempo fundamental do meu trabalho. preciso deste tempo e desta disciplina para ser quem sou.
estarei com esta e outras fotografias na cabeça. o lago que gelou e me deixou passear em cima como se o lugar dos peixes tivesse enlouquecido. gostei muito. ficou lindo."

2 comentários:

  1. Sábia, a decisão de te ficares pelo estremecimento. É que a espera não é só feita de pudor mas também de graça. A idade começa a habitar-te.

    ResponderEliminar
  2. Sim, tens 15 anos! Essa é a idade que te habita. Que bom, eu gosto muito que seja assim!

    ResponderEliminar