Das histórias nascem histórias

Das histórias nascem histórias
um poema visual de Fernanda Fragateiro

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

naturais e inteiros


Já foi há mais de uma semana, quase duas, e ainda estou a digerir...
- Mãe, zero mais zero é um?
- Não, F., zero mais zero é zero.
- Então um mais um é um!
- Pois, mas um mais um é dois, queres ver (e mostro-lhe um indicador de cada mão).
Deitado no chão da cozinha, estica os indicadores e coloca o direito sobre o esquerdo.
- Um mais um é T!
- Pois é!
Abre um V com os dedos da mão direita e cruza-o com o indicador da mão esquerda.
- E dois mais um é A!
- É verdade!
(já escrevi um ror de páginas sobre os traços distintivos entre letras e algarismos, entre números e palavras, e o F., de repente, mostra-me como é tão fácil e bom brincar com ambos!)
Ao jantar, o A., que ouviu a conversa pelo canto da orelha, reclama:
- F., zero mais zero não é um! É lógico! Se não tens nada mais nada é nada. Zero não é nada.
- Não é assim tão lógico, A. O zero não é um número natural, é inteiro. Não é natural somar quantidades zero, já pensaste?
- Pois, mas zero mais zero só pode ser zero!
- E pela lógica, como disse o F., um mais um será um...
- Claro que não!
- Claro para quem?
Ando a digerir esta conversa há muitos dias e resolvi que este ano não vou ensinar geometria aos meus alunos. Vou fazer com que eles descubram e aprendam. Porque a escola anda a dar cabo da riqueza do pensamento dos meus filhos e a formatá-los para não pensarem. E eu não quero, decididamente, contribuir para isso. Quero que eles continuem a saber pensar e a querer pensar sobre as coisas fantásticas da vida, sejam pessoas, números, letras, ou outra coisa qualquer... Tudo, de uma maneira geral!
Este ano vou pôr os meus alunos a ver coisas bonitas através da minha colecção de caleidoscópios. E eles vão aprender muito mais geometria do que alguma vez lhes conseguiram ensinar. Digo eu...

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